Transformação Épica

Fotos Por Chris Nieratko (Mais ou Menos)


Marisa e o autor. 

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Meninas skatistas não são bonitas. Essa é a verdade nua e crua. Eu queria que elas fossem, mas não são. É uma atividade de homens e, para se sentirem parte disso, elas acabam se vestindo e agindo feito homens para serem aceitas. A primeira mina skatista é e sempre será Elissa Steamer, que, durante a maior parte da sua carreira, se vestia, bebia e agia como um cara (não que tenha algo errado nisso). Foi só nos últimos anos que ela abraçou sua tigreza interior e realmente começou a ser sexy. E sabe o quê? Embaixo daquela calça folgada e daquela camiseta existia uma gostosa. 

Nos últimos dois anos uma nova skatista começou a brilhar e a Elissa a pegou para criar. A protégé em questão é de Chicago e se chama Marisa del Santos. 

A Marisa é casca grossa. Ela tem que ser, ela é patrocinada pela Zero Skateboard. Se você não sabe o que isso significa, eu te conto, ela é da equipe de skatistas da marca que pula as maiores escadas e desce os maiores corrimãos. Eu sou um grande fã e apoiador da Marisa e isso significa muito porque acho a maioria das skatistas um saco (menos a Elissa). Elas andam de skate com a bunda arrebitada como se suas calças estivessem cheias de papel higiênico. Você pode achar que uma mulher arrebitando a bunda enquanto faz qualquer coisa pode ficar sexy. Mas não fica. Não sei como explicar exatamente, mas é a visão do inferno. 

A Marisa não anda de skate com a bunda arrebitada. Nem a Elissa (eu sei, os nomes meio que rimam e, sim, eu andei pensando sobre as duas nuas e juntas muitas vezes). Elas dão uns pulos que a maioria dos caras se borrariam só de pensar em fazer o mesmo. Eu entrevistei a Marisa há pouco tempo para a revista The Skateboard Mag. Eu logo saquei que ela nunca teve namorado e que ela nem sequer já tinha beijado um cara. Isso partiu meu coração. 

Recentemente, minha mulher me disse que não se sentia muito confortável tendo relações sexuais durante o último mês da gravidez. Isso me deixou desorientado. Eu sei que leva uns meses para a mulher voltar a transar depois do parto, o que significava que eu ia passar três meses sem sexo. Eu não passo três meses sem sexo desde que comecei a transar há 20 anos. Não tenho certeza de que vou sobreviver até lá. 

Então você pode imaginar por que a ideia da Marisa NUNCA ter transado mexeu comigo. Sexo é tudo pra mim—sexo e skate. São as duas coisas que eu faço na minha vida há mais tempo. Nem estou dizendo que sou tão bom nessas coisas, mas sou, pelo menos, conhecedor dos assuntos. E um grande apreciador de ambos. Não consigo imaginar a vida sem.


A Marisa de sempre.                                     A Marisa sofisticada.                                     A Marisa Fashion.     O Chris de sempre.

Decidi que eu tinha que ajudar Marisa, tinha que mudar a vida dela. Eu tinha que fazer a única coisa que podia ser feita. 

Eu tinha que tirar a virgindade de Marisa del Santos. 
Quer dizer, não eu, pessoalmente, mas alguém que eu escolhesse. 
Eu disse que ia organizar uma glamurosa transformação e arrumar um encontro para ela. Ela concordou achando que eu estava de sacanagem. Mas não estava. Não dessa vez. Essa era minha nova missão. Às vezes me canso da minha vida e sinto que deveria fazer coisas com um propósito. No mês passado, estava em Cuba dando skates para crianças de lá. Neste mês, estou desencalhando a Marisa. 

Liguei para o Andy Capper, editor da Vice no Reino Unido. Expliquei a situação para ele. Eu sempre falo com ele primeiro sobre as minhas ideias porque ele fala um inglês superdifícil de entender e ele também tem dificuldade para entender o meu inglês. Isso faz a gente concordar com coisas que nem entendemos direito e que jamais cogitaríamos em outras situações só para podermos desligar logo o telefone. Ele pediu para eu mandar um e-mail com a pauta para ele mostrar pro resto do pessoal porque “Aye cannah undahstained whut yay sane”. Não sei que porra isso significa, mas consegui entender as palavras “pauta” e “e-mail”. 

Então, mandei um e-mail para ele com uma foto sorridente da Marisa e escrevi: “Essa adorável garota de 21 anos é uma skatista semiprofissional que nunca ficou com ninguém. Eu queria fazer uma transformação com ela e arrumar um carinha pra ela. Você topa? Você se lembra do seu primeiro beijo? Vamos fazer isso em nome do romance e da caridade. Está vendo esse belo sorriso dela? Vamos colocar um pinto aí!”. 

Eles concordaram e duas semanas depois eu estava em um avião rumo a Los Angeles para encontrar a Marisa e levá-la a Silver Lake. 

Quando encontrei a Marisa no Hotel Beverly Laurel Motor ela não estava empolgada. A ficha caiu e ela não estava nem aí para a transformação e nem para mim. 

“Eu não quero fazer isso”, ela disse. 

“Vai ser ótimo”, eu falei. 


O autor e Marisa, relaxando depois de uma tarde tortuosa sendo enfeitada, maquiada e com as atenções todas voltadas para ela.

Ela tentou argumentar contra se arrumar, usar roupas que não fossem dela, contra a maquiagem, as fotos e contra basicamente tudo que eu tinha armado.

“Quer que eu compre umas cervejas e uns cigarros?” perguntei. Ela disse sim.

Pensei que isso poderia acalmá-la.

Não acalmou.

A Marisa estava superdesapontada com todas as opções de roupas, cabelo e maquiagem. 

O stylist e o maquiador me olhavam aflitos, como se perguntassem se deviam parar. Eu só dizia: “Ela está bem, continuem”. 

E no final ela estava bem. Estava bem de verdade. Nas últimas fotos ela estava parecendo uma jovem e sexy Gina Gershon. Se eu não fosse casado, ia dar conta do recado pessoalmente.

O fotógrafo ficou tão atordoado com a experiência que não quis seu crédito pelas fotos. Ele disse que sentiu que estava violando a Marisa. Mas, já que ele não quis assumir o crédito por essas fotos, vou fincar a bandeira Nieratko nesses arquivos digitais e declarar que as fotos são minhas. Então, podemos dizer que eu tirei essas fotos da Marisa (visto que a Vice se recusa a publicar minhas fotos na Edição de Foto).

Mais do que tudo, eu queria ajudar a Marisa a ter uma experiência romântica. No mínimo um beijo. Minha amiga Joanna Angel, a atriz pornô, me ofereceu seu namorado, o também ator ponô James Deen, para fazer o trabalho. Infelizmente, meu círculo de amizade não ajudou muito. Como já disse, meus dois mundos são o sexo e skate e a maioria das pessoas em qualquer um deles não é exatamente desejável ou classuda. Não são o tipo de lobo para o qual você vai querer entregar uma doce e bela ovelha como Marisa.

E assim anuncio que minha missão foi um completo fracasso (fora a parte da transformação da Marisa, que fez ela ficar uma gata). Em vez de submetê-la a um encontro desagradável, fiz Marisa acompanhar um homem casado (no caso, eu) em um agradável almoço em seu restaurante italiano favorito, o Caffe Carrera. 

Ela pediu um spaguetti. 

Eu pedi um penne. 

Segurei a mão dela enquanto andávamos até o meu carro alugado.